ENEM está quase aí!
20% desconto com cupom RETAFINAL

Cisgênero e transgênero: entenda o que é e as diferenças

Diogo Orsi
Diogo Orsi
Professor de Filosofia e Sociologia

Nos últimos anos, temas ligados à diversidade de gênero e à identidade pessoal ganharam visibilidade nas escolas, nas redes sociais e em debates públicos. Entender o que significam os termos cisgênero e transgênero é essencial para compreender como as pessoas se reconhecem e se expressam em relação ao próprio corpo e à sociedade.

Além disso, esses conceitos estão presentes nas reflexões da Sociologia e da Filosofia, pois envolvem o modo como o ser humano constrói sua identidade e vive em relação ao outro. Autoras como Simone de Beauvoir e Judith Butler ajudam a compreender que o gênero não é apenas uma característica biológica, mas um processo social, histórico e político.

Neste conteúdo você vai encontrar:

Definições de cisgênero e transgênero

O termo cisgênero vem do latim cis (“do mesmo lado”). Uma pessoa é cisgênero quando sua identidade de gênero corresponde ao sexo que lhe foi atribuído ao nascer.

transgênero, do latim trans (“do outro lado”), designa pessoas cuja identidade de gênero é diferente do sexo designado ao nascimento. Por exemplo, uma mulher trans é alguém que nasceu com corpo masculino, mas se reconhece e vive como mulher; um homem trans é alguém que nasceu com corpo feminino, mas se reconhece e vive como homem.

Ser transgênero não depende de cirurgias ou transformações físicas. Segundo Judith Butler, o corpo não é uma essência fixa, mas uma superfície onde se inscrevem normas e resistências: é nele que as regras sociais se expressam e também podem ser transformadas.

O que é identidade de gênero

A identidade de gênero diz respeito à maneira como cada pessoa se reconhece: como homem, mulher, ambos, nenhum ou algo diferente dessas categorias.

Para a filósofa Judith Butler, o gênero é resultado de práticas sociais e culturais repetidas, que acabam moldando a forma como pensamos o que é “masculino” ou “feminino”. Essa repetição de comportamentos cria o que a autora chama de performance de gênero, isto é, uma forma de agir, vestir, falar e se comportar aprendida dentro das normas sociais.

Além disso, instituições como a escola, a família, a mídia e a religião ensinam o que se espera de cada gênero. Dessa forma, o gênero é um processo educativo e político, e não apenas um dado natural.

O assunto, porém, não é novidade. Há mais de 70 anos, a filósofa francesa Simone de Beauvoir já havia proposto uma visão inovadora sobre o tema em seu livro O Segundo Sexo (1949). Lá, Beauvoir argumenta que “não se nasce mulher, torna-se mulher”, mostrando que as diferenças entre homens e mulheres não são naturais, mas construídas social e culturalmente. Essa afirmação abriu caminho para compreender o gênero como uma construção histórica e existencial, e não como uma essência biológica.

A partir dessa perspectiva, o ser humano é livre para construir a si mesmo, o que aproxima Beauvoir das reflexões atuais sobre autonomia e identidade de gênero. Autoras posteriores, como Judith Butler, ampliaram essa discussão ao mostrar que essa construção se realiza através de atos cotidianos e normas sociais que moldam nossas ideias sobre masculinidade e feminilidade.

Simone de Beauvoir uma das primeiras pensadoras da questão de gênero
Simone de Beauvoir em Pequim em 1º de outubro de 1955 na Praça da Paz Celestial. (CC0 1.0 Universal)

Gênero como construção social e política

Diversos autores destacam que o gênero é construído nas relações de poder. Judith Butler aponta que a sociedade funciona com base em uma “ordem compulsória do sexo/gênero/desejo”, tentando alinhar sexo biológico, gênero e orientação sexual de forma rígida em um sistema chamado heteronormatividade.

A escola, por exemplo, reforça essas normas quando separa meninos e meninas, impõe regras de vestuário ou trata a sexualidade de forma moralizante. No entanto, também pode ser na escola que surgem práticas de transformação e respeito à diversidade.

Outras identidades de gênero

Além das pessoas cis e trans, existem outras identidades que desafiam o modelo binário de gênero:

  • Não binário(a): quem não se identifica exclusivamente como homem ou mulher.
  • Gênero fluido: quem sente que seu gênero pode mudar com o tempo.
  • Agênero: quem não se identifica com nenhum gênero.

Essas identidades mostram que o gênero é plural e mutável. Por isso, é importante que a escola seja um espaço aberto ao diálogo, permitindo que os jovens expressem suas identidades com liberdade e segurança.

Identidade de gênero vs. orientação sexual

Muitas vezes, as pessoas confundem identidade de gênero com orientação sexual.

Identidade de gênero é o modo como a pessoa se reconhece (homem, mulher, não binário etc.).

Orientação sexual é por quem a pessoa sente atração afetiva ou sexual (homens, mulheres, ambos ou nenhum).

Por exemplo, uma mulher trans pode ser heterossexual se gosta de homens ou lésbica se gosta de mulheres. Como explica a socióloga Berenice Bento, identidade e orientação sexual são dimensões diferentes, e compreendê-las é essencial para combater preconceitos.

A performatividade do gênero

Um conceito central na discussão de gênero é o que a filósofa Judith Butler chama de performatividade. Segundo esta noção, indicando que o gênero é produzido e reproduzido por meio de atos e gestos diários: o modo de falar, vestir, andar e expressar emoções. Quando alguém age fora das expectativas sociais, como um homem que usa saia, fica claro que o gênero é uma construção social e não uma verdade biológica.

Essa reflexão é importante para a Sociologia, porque mostra como as identidades de gênero são aprendidas, reproduzidas e também transformadas na sociedade.

Desafios e inclusão na escola

A pesquisadora e educadora Guacira Lopes Louro destaca que a escola é um espaço onde as diferenças são vividas todos os dias. Isso exige diálogo, empatia e políticas de acolhimento, como uso do nome social, banheiros inclusivos e atividades que valorizem a diversidade.

Assim, discutir gênero no Ensino Médio ajuda a formar cidadãos conscientes, críticos e comprometidos com os direitos humanos.

Reflexão final

Compreender as diferenças entre cisgênero, transgênero e outras identidades é reconhecer que o ser humano é múltiplo e em constante transformação.

A Sociologia e a Filosofia mostram que o gênero é uma construção coletiva, atravessada por normas e resistências. Inspirar-se em autoras como Beauvoir, Butler e Louro é essencial para promover o respeito, a pluralidade e a igualdade.

Glossário

Cisgênero: Pessoa cuja identidade de gênero corresponde ao sexo que lhe foi atribuído ao nascer. Exemplo: alguém que nasceu com corpo feminino e se identifica como mulher é uma mulher cisgênero.

Transgênero: Pessoa cuja identidade de gênero é diferente do sexo designado ao nascer. Exemplo: alguém que nasceu com corpo masculino, mas se identifica e vive como mulher, é uma mulher transgênero.

Identidade de gênero: Forma como a pessoa se reconhece e se sente internamente em relação ao gênero (como homem, mulher, ambos, nenhum ou outro).

Orientação sexual: Refere-se a quem a pessoa sente atração afetiva e/ou sexual (por homens, mulheres, ambos ou nenhum).

Heteronormatividade: Conjunto de normas sociais que consideram a heterossexualidade e o modelo binário de gênero (homem/mulher) como os únicos “naturais” ou “corretos”.

Performatividade: Conceito de Judith Butler que indica que o gênero é construído por meio de comportamentos repetidos (gestos, roupas, modos de falar e agir) que criam a aparência de algo natural, mas que, na verdade, é aprendido socialmente.

Gênero fluido: Pessoa cuja identidade de gênero pode mudar ao longo do tempo.

Não binário: Pessoa que não se identifica exclusivamente como homem ou mulher.

Agênero: Pessoa que não se identifica com nenhum gênero.

Veja também:

Geração Z: quem são e as principais características

Geração Y ou Millennials: tudo sobre esse grupo

Referências Bibliográficas

BEAUVOIR, Simone de. Segundo Sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019

BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 16. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2021.

Diogo Orsi
Diogo Orsi
Bacharel (PUC/SP) e licenciado (UniBF) em Filosofia. Mestrando em Filosofia (Unifesp), com ênfase em filosofia política contemporânea.